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Mau humor não é ideologia

Felipe Lange


Neste dia 15/03/2023 (quarta-feira), a jornalista Míriam Leitão publicou o texto de seu blog, denominado "Pesquisa mostra mercado de costas para o governo e para o país".

Dentro do texto, ela mostra a pesquisa da Genial/Quaest, onde apenas 2 % dos executivos pesquisados afirma que a política econômica do atual governo está no rumo correto.


Para quem acompanhou os discursos do Lula nos últimos anos, ou melhor, as suas falas agressivas como as que demonstrou contra a postura falconista do Banco Central do Brasil, não ficaria muito surpreso com o mau humor dos investidores. O Congresso, por outro lado, já mostrou que não apoia essa retórica petista, o que é uma das causas prováveis de o dólar não estar a R$ 6.


Segundo a Míriam, o "bolsonarismo" e a ideologia estão interferindo no mau humor dos executivos do mercado financeiro, o que evidentemente não tem nenhuma lógica. Afinal, investidores são apenas pessoas que buscam retorno sobre aquilo que elas estão investindo. Caso fosse realmente assim, não haveriam investidores em países como China, Singapura e Arábia Saudita, que não são regimes plenamente democráticos. De todo modo, é notório saber como o Bolsonaro se tornou um fenômeno pois, mesmo com ele fora do Executivo (e do Brasil), ele continua sendo citado.


Míriam também afirmou que o Haddad demonstra uma responsabilidade fiscal, por reonerar os combustíveis com impostos. Mas aumento de impostos não é, de forma alguma, algum tipo de responsabilidade fiscal. Poderia se dizer se fosse austeridade, se esse aumento viesse com corte de impostos (como ocorreu em muitos países europeus após a crise de 2008).


Ainda em 1955, Cyril Northcote Parkinson ficou famoso pela Lei de Parkinson, onde é dito de que os gastos sobem junto com a receita. Ou seja, se o intuito do governo atual é aumentar a coleta de impostos por aumentos na carga tributária, no final das contas, mesmo que ele consiga esse aumento, os gastos irão subir junto.


Empiricamente, é isso que vimos, conforme os gráficos abaixo:


Despesas governamentais, em milhões de reais brasileiros, janeiro de 1997 a janeiro de 2023


Impostos coletados, em bilhões de reais brasileiros, janeiro de 1998 a janeiro de 2023



E ainda: os impostos coletados aumentaram, não obstante a redução dos impostos nos combustíveis, dentro daquilo que a teoria supply-side fala sobre a famosa Curva de Laffer. É claro que, conforme eu disse aqui, o fator monetário também fez aumentar a quantidade de impostos que o governo coleta.


É verdade que, em 2022, os gastos subiram bastante (em 12,17 %, ante ano de 2021), justamente por ser aquilo que ela mesma disse, de ser ano eleitoral. Esse é um vício que existe no Brasil há tempos, muito provavelmente desde que a República foi imposta em 1889 (por isso sugiro a leitura deste texto).


Segundo ela, Bolsonaro também furou o teto de gastos várias vezes e pedalou os precatórios.


De fato, houve certas mudanças no teto de gastos, mas isso não foi exatamente um furo, pelo menos não em ter descumprido a lei, que é o que parece que o Haddad quer fazer com o "arcabouço fiscal" (Lula, por outro lado, antes mesmo de assumir, já correu atrás de passar uma EC para gastar mais). . No ano de 2020, o teto não foi furado (apesar de a gente estar pagando a conta dessa gastança até hoje), porque a própria lei já previa exceções para situações de calamidade. Sobre os precatórios, independentemente se a bomba fiscal foi jogada em cima do governo Bolsonaro ou não, o fato é que se o governo deve precatórios, ele deveria pagar, não importando quem esteja no poder, embora na prática isso não ocorra. Nesse ponto, já é uma discussão interessante.


Sobre medidas demagógicas, como eu desconheço sobre quais ela estaria se referindo, então sobre isso não me manifestarei.


Com relação às mudanças dos presidentes da Petrobras, a Ciência Econômica apenas mostra que empresas estatais sofrem intensa pressão política e, pior, no caso da Petrobras, é possível atrasar os repasses nos aumentos dos preços do barril de petróleo, visando ter ganho político (afinal, os preços da gasolina influenciam também no IPCA e, de alguma forma, até mesmo nas reuniões do Comitê de Política Monetária). Se você não quer que isso ocorra, o que deve ser feito é exatamente a privatização. Somente a privatização faz com que a empresa fique longe de influências e pressões políticas (haja vista o que foi feito recentemente na Lei das Estatais).


Agora, dizer que o mau humor é fruto de ideologia não tem nenhum senso de lógica. Basta vermos alguns dados:


(1) Confiança dos pequenos empresários em apenas 49,6 pontos para fevereiro, nos menores níveis desde julho de 2018 (quando marcara 48,8 pontos; aquela abrupta queda em 2020 foi por causa da crise do coronavírus, então é injusto atribuir isso ao governo):


Nível de confiança dos pequenos empresários, janeiro de 2010 a fevereiro de 2023.



(2) Confiança na indústria em forte queda, chegando a 49,9 pontos para este mês de março, nos piores níveis desde junho de 2018 (quando chegou a 49,7):


Nível de confiança da indústria, janeiro de 2004 a março de 2023.



(3) Confiança do consumidor em queda desde dezembro de 2022, chegando a 84,5 pontos para fevereiro, próximo ao visto em setembro de 2017, quando chegou a 84,2 pontos.


Confiança do consumidor, setembro de 2005 a fevereiro de 2023.



É aquilo que os austríacos chamam de "incerteza gerada pelo regime" (mencionado por Robert Higgs em 1997), confirmado na prática. Há até o chamado Economic Policy Uncertainty Index, que faz essa menção.


E nessa o Brasil também não vai muito bem: 257 pontos para este mês de fevereiro, só não superando os altos 294 pontos de dezembro de 2022. Isso, embora tenha havido outros meses com maiores picos ao longo destes últimos anos.


De todo modo, comparemos com alguns exemplos, para o mesmo mês: 52 pontos para o México, 129 pontos para a Índia e 208,5 pontos para o Chile.


É, realmente o bolsonarismo é um fenômeno.

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