Felipe Lange
Diante do verdadeiro caos no mercado internacional de commodities em insumos tão importantes como petróleo e gás natural (assim como no encarecimento de trigo e demais cereais), alguns governos ao redor do mundo estão se mexendo e abrindo parcialmente mão da retórica ambientalista (ou pelo menos pensam nisso).
Para a sorte dos brasileiros, o inverno em grande parte do País é, na pior das hipóteses, frio. Eventos de neve são mais comuns em apenas alguns locais do Brasil, mesmo assim com curta duração.
Por outro lado, para muitos moradores da Europa, a falta de gás natural para aquecimento e sobrevivência em invernos tão poderosos pode significar até a morte. A Alemanha, por exemplo, possui 63,7 % da sua matriz energética dependente de importações, grande parte vindo da Rússia. Os russos são os maiores fornecedores de carvão, gás natural e petróleo para o continente.
O Brasil, por outro lado, tem grande parte de sua eletricidade gerada por usinas hidroelétricas, o que de certa forma nos protege de choques geopolíticos, embora ainda estejamos vulneráveis aos choques meteorológicos, estes indomáveis.
Com tais desafios, o que pode ser feito para acabar com esse problema de dependência energética dos russos?
A principal é a desregulação no setor energético (e elétrico), afinal as regulações ambientais são apenas uma variação verde do que são as regulações estatais: criadas para proteger corporações escolhidas pelo governo, encarecendo os custos, gerando concentração de mercado e aumentando ainda mais o poder regulatório governamental.
Esses exemplos listados vão nesse caminho de desregulação:
Ainda em fevereiro, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, anunciou que pretende "reviver" plantas de produção de carvão mineral.
Na Alemanha, há pretensão de restaurar projetos de gás natural e criar reservas de carvão mineral para segurança energética. O ministro da Agricultura quer desregular o setor agrícola, permitindo mais produção de gêneros agrícolas (inclusive em áreas protegidas; certo, agora estou falando de setor agrícola).
A Comissão Europeia (órgão que faz parte da União Europeia) quer incluir energia nuclear e de gás natural na lista de "energias limpas" (o que deixou os ambientalistas furiosíssimos).
Os chineses pretendem aumentar a produção de carvão mineral, o que é especialmente crucial num país em que metade da sua matriz energética vem do produto. Nesse caso não dá para afirmar se foi exatamente alguma desregulação ou se é simplesmente um aumento de produção. De todo modo, os governantes sabem muito bem de que energia muito cara não vai deixar a população feliz.
Na França essa solução já está resolvida, ao menos de maneira significativa: não apenas os franceses estão entre os menos dependentes energicamente da Rússia, como eles querem expandir ainda mais a produção de energia nuclear (hoje o país já tem 70,6 % de sua matriz energética em energia nuclear, maior proporção do mundo).
Obviamente, essas reformas, caso forem passadas, não irão fazer o preço da energia e dos alimentos caírem de maneira instantânea, mas esses movimentos mostram, ainda que de maneira discreta, um dos altos custos das regulações ambientais.
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