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Chama o Meirelles?

Atualizado: 13 de mar. de 2020

Felipe Lange


Neste dia 12 de março, o câmbio chegou a R$ 5, mais uma alta histórica. Com o problema do SARS-CoV-2 ainda sem expectativa de terminar, a economia em vários locais do mundo desacelerou. Mas o que causou tudo isso está relatado aqui (e em vários textos aqui). Os austríacos incansavelmente avisaram sobre isso.


Com isso, muitas pessoas migram para os títulos do governo americano, aumentando então a demanda pelo dólar. Não é contraditório? Parece, mas não é: esses títulos são lastreados na população americana, que continua sendo plenamente capaz de sustentar toda a máquina estatal americana, além do fato de que os juros nominais sobre esses títulos continuam positivos e a economia americana é, pelo menos até o momento, a que mais cresce entre o mundo desenvolvido. O índice DXY (que mede o poder de compra do dólar) ainda não aumentou, mas provavelmente ele irá aumentar em algum momento, como ocorreu após a crise de 2008.


É óbvio que em algum momento o câmbio iria disparar, mesmo que o Ministério da Economia fosse composto pelo Ludwig Erhard, mas chama a atenção o desastroso caminho da equipe atual econômico de um câmbio desvalorizado e instável. O Paulo Guedes se mostrou uma figura que, além de defender uma moeda fraca, foi elogiado até pelo Bresser-Pereira. Entretanto, nem o Banco Central pombalístico aguentou e acabou fazendo leilões, reduzindo a cotação cambial para R$ 4,78. Para piorar a encrenca, o nosso querido Congresso simplesmente derrubou um veto orçamentário relacionado à extensão de gastos com o BPC. Ignorando a questão moral de assistencialismo estatal, o fato é que isso irá gerar um gasto de R$ 200 bilhões (pelo menos) em só 10 anos. Um exemplo de desrespeito à PEC 241, naquele clássico sinal de insegurança jurídica brasileira.


Só para relembrar sobre a crise de 2008, o Henrique Meirelles, presidente do BC, foi O ÚNICO que aumentou a taxa SELIC. Único do mundo todo. Ignorou os palpiteiros que pediam por uma redução nas taxas de juros. É claro, isso precisaria ser feito em algum momento, pois é o momento de correção, para corrigir as distorções que são sempre geradas pelos ciclos econômicos.


Em primeiro de julho de 2008, o câmbio estava em R$ 1,55. Depois ele foi subindo de maneira contínua, até a máxima de R$ 2,39 em fevereiro de 2009. A partir de então, foi caindo mais e mais. Depois de 2011, seria trocado pelo Alexandre Tombini, de uma escola de pensamento totalmente distinta. Todo o histórico dessa época está aqui.


Se naquela época tivesse o Roberto Campos Neto, o câmbio já teria disparado ainda mais e a economia teria sofrido muito mais. Esse foi um dos motivos de o Brasil não ter sofrido tanto na crise mundial. O governo não fez um programa-gambiarra como nos bancos centrais da Europa e dos EUA. E os bancos estatais, embora estivessem atuando consideravelmente desde 2004, começaram a se intensificar na atuação depois dessa crise, cujos efeitos maléficos foram se manifestar somente alguns anos depois pois apesar da atuação na SELIC e do histórico de boa reputação do Henrique Meirelles, o dólar continuou mundialmente fraco até meados de 2014.


Hoje, sem a farra dos bancos estatais expandindo crédito desde pelo menos meados de 2015 (que era o mecanismo principal de expansão monetária), temos um fator que facilitaria a apreciação cambial. Isso ocorreu no governo Temer, quando o dólar já estava mundialmente forte. E isso que daria para ser considerado mediano, porque o Meirelles não fez nada de excepcional (ele nem é economista, é engenheiro civil). É possível que com um Gustavo Franco tivesse sido ainda melhor. Ele ficou quieto e fez o trabalho dele. Abaixou os juros sem afundar o câmbio, junto com o Ilan. Agora ele está no governo de SP. O estado cresceu o dobro do que a média do Brasil no ano passado. E o João Dória nem é exemplo de bom governador. Com tanto estrago feito pelos discursos, na redução exagerada da SELIC em julho passado, uma iminente recessão mundial, acho difícil esperar uma apreciação cambial.Imaginem se o estado fosse um país independente...


Ontem eu li esse artigo e o que mais me preocupa não é nem o vírus em si, mas essa nova disparada do câmbio e como a economia brasileira irá lidar com essa encrenca. Nele foram propostas algumas soluções para lidar com esse novo problema. O problema é esperar que aqui no Brasil vá ocorrer essa desburocratização, além de alguma redução na carga tributária (pelo contrário, o Paulo Guedes abertamente defende criar mais impostos). Eu espero mais isso em algum país desenvolvido do que no Brasil. Eu nunca vi nada, nada mesmo, de reformas substanciais. Só remendos para o país não quebrar amanhã.  Ninguém propondo redução do IOF, flexibilização de abertura de contas em dólar (que foi proposto no ano passado, mas esqueceram pelo jeito), entre outras coisas. Uma ampla reforma trabalhista e cortes em privilégios dos funcionários estatais, principalmente os de mais alta casta. O governo teve o ano de 2019 inteiro para correr atrás de uma reforma tributária e alguma coisa a mais. Por que não fizeram? Eu só vi brigas entre setores dentro do próprio governo, além de um querendo passar responsabilidade para o outro (quem se lembra do que estava acontecendo com o remendo previdenciário, lá no começo do ano passado?). A única coisa que realmente foi boa, ainda assim com várias ressalvas, foi a Lei de Liberdade Econômica. O remendo previdenciário só passou porque se, caso o Brasil quebrasse de vez, a carreira dos políticos e burocratas poderia estar em risco. Imaginem um Brasil inteiro quebrar e o povo espumando de raiva contra todos os funcionários estatais.  Em suma, o governo federal estava quase agindo como se estivesse usando telefones sem fio.  Agora há só mais praticamente 3 anos. O Bolsonaro foi lá nos EUA. E aí? Viu como é um mercado mais livre de petróleo e derivados, com combustível barato e de qualidade? Mercado de trabalho mais flexível e com muito mais empregos, maiores salários e menos exigências burocráticas (lá basta você ter um carro e boa vontade, que em algum momento você vai conseguir algo para ganhar dinheiro, mesmo que seja por aplicativo)? Impostos bem menores do que de outras sociais-democracias desenvolvidas como as da Europa Ocidental?


Esse ano vai ser difícil para o Brasil.


Agora é tarde para ir atrás das reformas propostas. É claro que com elas aprovadas, vai ficar melhor, mas os efeitos benéficos delas serão retardados pela nova recessão mundial e pela encrenca cambial.


Uma manifestação ocorrerá no dia 15 (neste domingo), o que pode até fazer com que exploda os casos do novo vírus, já que ele irá fazer uma festa com várias aglomerações.


Se tivessem chamado o Meirelles logo em janeiro do ano passado, a disparada cambial com a chegada de uma recessão mundial ocorreria, mas pelo menos poderíamos estar com câmbio a R$ 4, não R$ 5...


Eu apenas espero estar errado.

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